Avaliações Psicológicas são comumente
utilizadas nos diversos meios organizacionais para avaliar traços de
personalidade, perfil de candidatos a uma vaga e diagnóstico de aspectos
psicológicos.
A
procura dos profissionais de segurança e de recursos humanos pelas avaliações
psicológicas com a finalidade de verificar o perfil de trabalhadores com
propensão a sofrerem acidentes de trabalho tem crescido muito nos últimos
tempos.
Por
esta razão este artigo traz à luz os problemas éticos e técnicos que envolvem o
uso de testes psicológicos na prevenção de acidentes de trabalho.
Avaliação Psicológica
A
avaliação psicológica é uma atividade profissional questionada e controvertida
na Psicologia, levando a discussões da cientificidade de testes psicológicos e
sua padronização.
O
Conselho Federal de Psicologia determina que os testes psicológicos devem ser
avaliados segundo parâmetros específicos, com revisão periódica de condições,
métodos e técnicas utilizadas para avaliação.
O
Conselho tem, inclusive, baixado normas orientando sobre a utilização dos
testes psicológicos.
Os
Testes Psicológicos são de uso privativo do Psicólogo, que o utiliza como
instrumento de trabalho, e estes por sua vez devem ser fundamentados
cientificamente e aprovados pelo Conselho Federal de Psicologia.
O uso
de testes em avaliação psicológica, como instrumento de trabalho, serve para
orientar uma ação mais segura e adequada do psicólogo em seu trabalho, não
somente utilizá-lo como diagnóstico final para traçar perfil, características de
personalidade nem mesmo detectar se um indivíduo possui perfil acidentário.
Outras
técnicas devem ser utilizadas em conjunto para uma melhor análise do indivíduo
que está sendo avaliado. Destacam-se como ferramentas complementares, o uso de
entrevistas focais, observação, dinâmicas de grupo, provas situacionais e
avaliações periódicas.
O Fator Humano como Causa nos Acidentes de Trabalho
Muitos
dos acidentes são comumente atribuídos a falhas humanas ou ao fator humano
representado por desatenção, descuido, brincadeira, despreparo, incapacidade de
quem se acidentou.
Autores
estudiosos do comportamento humano nos acidentes de trabalho, mostram que para
haver negligência ou desatenção de um trabalhador, houve anteriormente uma
série de decisões, atitudes, comportamentos organizacionais que criaram
condições para que o acidente ocorresse.
Os
acidentes, portanto, não são atribuídos a uma única causa, este fenômeno é
multicausal, determinado por fatores que influenciam os indivíduos, alterando
assim sua conduta frente às situações do dia – a – dia.
Entender
as causas dos acidentes é entender com maior clareza o comportamento de quem se
acidenta, pois o comportamento é determinado tanto pela relação do homem com o
meio como por suas características internas.
O
aspecto cognitivo incide na questão da segurança de uma pessoa. Quando, por
exemplo, características exigidas pela tarefa a ser executada não são de
conhecimento da pessoa que a realizará, ela não terá todas as informações dos
perigos, riscos, procedimentos, controles a adotar para realizar a atividade de
forma produtiva e segura para si e para os colegas.
Acidentes
também são decorrência de fatores como máquinas inadequadas e ambientes
desfavoráveis.
Doenças
na família e problemas financeiros, evidentemente influenciam o comportamento
das pessoas.
Para
entender o processo dos acidentes, é importante ressaltar que o erro humano
resulta na interação homem – trabalho ou homem – ambiente onde estão implícitos
três elementos: uma ação variável, uma transformação do ambiente ou máquina que
não atenda a determinados critérios e o julgamento da ação humana frente a
esses critérios (Ilda, 2003 p.30).
O erro
humano acontece quando este percebe o ambiente de forma distorcida da
realidade, seja por falta de informação do ambiente, percepção baixa dos
perigos e riscos envolvidos na atividade e no ambiente, omissão dos fatos e de
incidentes, falha em sua memória, erro em sua avaliação, falta de conhecimento
de um procedimento, excesso de confiança e erro em seu processo de escolha.
A
experiência nas empresas mostra que muitos dos acidentados conhecem os perigos,
riscos e procedimentos corretos a adotar, mas por alguma razão escolhem
comportarem-se de forma inadequada.
O repertório de comportamentos dos indivíduos é
determinado por escolhas deles mesmos e isso é que vai expô-los aos riscos em
seu ambiente de trabalho.
Alguns
estudiosos argumentam que os acidentes de trabalho não estão associados a
características de personalidade, não podendo desta forma, serem as pessoas
submetidas a avaliações psicológicas para serem avaliadas se possuem ou não
propensão a sofrerem acidentes de trabalho.
Ilda
(2003) em seus estudos procura demonstrar que existem pessoas com maior propensão
a se acidentarem, porém a teoria mais aceita atualmente, é que as pessoas mais
propensas a sofrerem acidentes existem de fato, porém não são dotadas de
características permanentes que as tornam mais susceptíveis a sofrerem
acidentes de trabalho.
Dela
Coleta (1991) menciona o fato de que muitos autores têm defendido opiniões que
realçam a importância dos fatores ou traços de personalidade na determinação de
acidentes, mas isto não foi ainda plenamente determinado. Quando se avalia a
personalidade de um indivíduo, está sendo avaliada a organização dinâmica de
seus aspectos biológicos, físicos, psíquicos, sociais, mentais e espirituais de
sua interação com o meio externo.
Considerando que o comportamento de um indivíduo
pode ser alterado mediante as situações que ele enfrenta no dia – a – dia,
testes psicológicos não têm condições de detectar todos esses aspectos.
Prevenindo Acidentes de Trabalho
As
condições que podem favorecer um comportamento mais seguro e adequado envolvem
um processo educativo em segurança e saúde tornando dessa forma o ambiente mais
seguro e saudável, para prevenir acidentes no ambiente de trabalho.
Considerando que os acidentes são causados por
inúmeros fatores, descritos ao longo deste artigo, ressalta-se a importância de
um trabalho preventivo envolvendo todos os fatores influenciadores na
ocorrência de um acidente.
As
atividades de prevenção poderão envolver modificação no ambiente de trabalho,
desde a manutenção e inspeção dos equipamentos e máquinas, de forma sistemática,
investimento em equipamentos de proteção individual e coletivo adequados e em
boas condições de uso para as diversas atividades e uma melhor gestão do
sistema de segurança, clima, cultura e qualidade de vida dos trabalhadores.
É
necessária uma revisão nos processos de contratação de funcionários a fim de
selecionar os profissionais mais adequados para o nível e tipo de trabalho a
que se destinam seus serviços, bem como uma boa capacitação do funcionário
quando inicia na empresa, através de participação em treinamentos específicos e
gerais, para melhorar sua formação.
Outra
contribuição para minimizar os riscos de acidentes no ambiente de trabalho é
poder investir na qualidade de vida das pessoas, através de campanhas, ações
ocupacionais envolvendo o trabalhador e seus familiares para resolução e
prevenção nos aspectos sociais, psicológicos, médicos e econômicos.
O
sistema de gestão da empresa também é um ponto a ser considerado como
influenciador, a forma como são geridas as pessoas, sua relação com colegas de
trabalho, relação com lideranças, produção versus segurança, pontos de
insalubridade.
Trabalhar
estes aspectos é melhorar o ambiente físico, social e organizacional, pois o
objetivo é a satisfação pessoal e profissional do trabalhador e sua melhor saúde
laboral.
Conclusão
O uso
de testes em avaliação psicológica deve ser de uso privativo do Psicólogo,
servindo como um instrumento orientador em sua prática de atuação.
Este
por sua vez deve ter aprovação do Conselho Federal de Psicologia mediante revisão
periódica de suas condições, métodos e técnicas para uma atuação mais segura e
adequada.
O uso
de testes psicológicos para se detectar perfil acidentário é comumente
requisitado por profissionais de segurança e recursos humanos, porém não existe
relação simples e linear entre características de personalidade e os acidentes
de trabalho.
A
personalidade de um indivíduo é determinada pela relação que ele estabelece com
seu meio. Pode-se dizer que seu comportamento pode ser alterado mediante as
situações que ele enfrenta em sua rotina de trabalho e, um teste psicológico
não tem condições de poder detectar todos esses aspectos.
As
condições que podem favorecer um comportamento mais seguro e adequado envolvem
um processo educativo em segurança e saúde, tornando desta forma o ambiente
mais seguro e saudável para prevenir acidentes no ambiente de trabalho.
Nos acidentes de trabalho deve-se identificar
todas as variáveis envolvidas no comportamento para poder introduzir ações
corretivas e evitar consequências futuras e ações repetitivas.
Melhorando
o ambiente, o clima, a qualidade de vida, os procedimentos, o conhecimento e o
acompanhamento periódico, estão sendo oferecidas condições para que os
trabalhadores possam atuar de forma mais produtiva e segura, minimizando a
ocorrência dos acidentes de trabalho.
Autor(a): Camila Bounassar
Informações sobre Autor(a):
Psicóloga pela Universidade Filadélfia de Londrina (CRP 08/09569) . Consultora
da Comportamento - Psicologia do Trabalho. Possui especialização em Gestão
Contemporânea de Recursos Humanos pela UEL-PR.