Quando se fala de evacuação de um edifício em uma
situação de emergência e concretamente no caso de incêndio, pretende-se
traduzir o êxito ou o insucesso dessa operação, estando em causa,
fundamentalmente, o confronto entre o tempo disponível para evacuar o edifício
sem que os ocupantes sofram as consequências desse incêndio e o tempo
necessário de evacuação do edifício. O desenvolvimento de um modelo de
evacuação coerente com a realidade implica necessariamente o
conhecimento da forma como se processa o movimento de pessoas no
edifício, durante uma situação de emergência.
Pode-se considerar,
para efeitos de avaliação do tempo que os ocupantes demoram a deixar um
edifício, as seguintes fases:
Fase 1 – Detecção e alerta
Esta fase ocorre antes do processo de evacuação, e desenvolve-se a partir do
momento em que deflagrou 0 incêndio, até ao instante em que pelo menos um dos
ocupantes teve conhecimento desse fato.
Fase 2 – Alerta/reação/evacuação
Fase que se inicia a partir do momento em que pelo menos um ocupante tem
conhecimento da existência do incêndio, e cujo fim ocorre quando todos os
ocupantes desenvolvem ações com vista a deixar o edifício. Nesta fase, podem
existir pessoas que ainda não tiveram conhecimento do incêndio, outras que
conhecendo o incêndio não decidiram ainda deixar o edifício e, finalmente, as
restantes que já iniciaram o processo de saída para o exterior.
Fase 3 – Evacuação
Nesta fase, as ações de todos os ocupantes que ainda estão no interior do
edifício têm como objetivo a saída para o exterior.
É um dado adquirido que, para algumas pessoas envolvidas em uma situação de
emergência, o tempo total que elas demoram a sair do edifício (TNE),
considerando como origem dos tempos o instante em que se dá a deflagração do
incêndio, pode ser constituído por três componentes distintas:
§ Tempo que decorre
entre o momento em que tem início o incêndio e o instante em que o ocupante tem
conhecimento desse fato (Tempo de alerta).
§ Tempo gasto pelo
ocupante em ações que não têm como objetivo a evacuação do edifício e que está
compreendido entre o momento em que o ocupante toma conhecimento do incêndio e
a altura em que decide deixar o edifício (Tempo de reação).
§ Tempo que o ocupante
demora a fazer o percurso até ao exterior (Tempo de Percurso), com início no
momento em que decide deixar o edifício e término quando alcança o seu exterior
ou um lugar considerado como seguro.
Em diversos tipos de edifícios a ação de deixar o edifício é
praticamente a única que existirá em caso de incêndio.
Exemplo disto são as situações em que existem grandes densidades de ocupação,
que condicionam o desenvolvimento de ações individuais distintas da procura da
saída para o exterior.
Por outro lado, o
grau de ligação ao edifício tem, também, uma importância decisiva nas ações
desenvolvidas pelos ocupantes, pelo que em edifícios de habitação e,
eventualmente, em edifícios cuja população é predominantemente constituída por
pessoas que aí desenvolvem a sua atividade laboral, é previsível que se faça
sentir com maior intensidade a existência de ações iniciais distintas das de
deixar o edifício.
Pode-se considerar que o TNE depende fundamentalmente de quatro fatores
de natureza distinta:
- Fatores físicos relacionados com a forma e geometria do edifício;
-Fatores relacionados com aspectos físicos e comportamentais dos ocupantes;
- Fatores relacionados com a proteção passiva do edifício;
- Fatores relacionados com a proteção ativa do edifício.
Para cada situação
concreta de um incêndio num edifício existe, naturalmente, um tempo máximo para
que a evacuação se possa fazer com êxito (TME), e que é influenciado pelo
desenvolvimento do incêndio que, por sua vez depende de diversos fatores
(quantidade e tipos dos materiais combustíveis, forma e armazenamento desses
materiais, quantidade de ar fornecido por unidade de tempo, propriedades
térmicas dos elementos de construção, etc.).
O tempo total que os ocupantes demoram a sair do edifício e o tempo
máximo para que a evacuação se possa fazer com êxito dependem dos seguintes fatores:
- Alerta dos ocupantes;
- Resposta dos ocupantes a esse alerta;
- Condições de visibilidade;
- Condições ambientais (temperaturas, gases tóxicos, fumos, etc.);
- Geometria dos caminhos de evacuação;
- Familiaridade do ocupante com o edifício e sua capacidade para elaborar uma
estratégia de evacuação;
- Idade do ocupante;
- Sexo do ocupante;
- Capacidade de mobilidade do ocupante;
- Familiaridade do ocupante com exercícios de evacuação;
- Conhecimento dos equipamentos de segurança;
- Nível cultural dos ocupantes;
- Afinidades existentes entre os ocupantes.
Na elaboração de um
modelo de evacuação importa ter em consideração o maior número possível de fatores
que influenciam o movimento das pessoas.
Autor: António Leça Coelho
Adaptação: Pontes & Paiva